Por meio de compromisso firmado junto ao Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, a Uesb se tornou a primeira universidade brasileira a se comprometer, publicamente, com a não utilização de gaiolas no setor de avicultura de suas dependências e ainda incentivar outras instituições de ensino superior a fazerem o mesmo. A
decisão foi tomada através do Centro de Estudos Bioclimáticos (Cebio) e do Laboratório Experimental de Avicultura da Universidade, ambos situados no campus de Itapetinga.
O sistema de criação de galinhas soltas, livres de gaiolas, é denominado Cage-free, expressão do inglês. Esse modelo de criação de aves está ganhando visibilidade e tornando-se uma tendência no mundo, pois busca priorizar o bem-estar animal. Para Gabriela Bertti, assessora de Relacionamento Corporativo do Fórum, o impacto e a importância do compromisso assumido pela Universidade são múltiplos, visto que a Uesb se torna referência nacional e, até mesmo, internacional, pois o Fórum comunica os acordos em uma lista que abrange Organizações Não Governamentais (ONGs) de outros países.
Além disso, Bertti ressalta a capacitação dos estudantes para uma modelo de criação que, em poucos anos, será uma realidade no Brasil e no mundo. “Diversas pesquisas demonstram o aumento na procura e contratação de profissionais que dominem o método de criação livre de gaiolas (cage-free/free-range). Logo, os alunos que possuem essa expertise terão vantagem. Esse compromisso também leva o debate sobre a formação ética desses alunos, futuros profissionais, em relação ao cuidado e respeito aos animais frente a uma nova visão de direito e consideração moral animal”, sublinhou Bertti.
De acordo com a professora Sônia Martins Teodoro, coordenadora do Cebio, a intenção do compromisso assumido é preparar a Universidade para metas de produção e pesquisas que já são uma realidade em diversos países da Europa e boa parte dos Estados Unidos, Canadá e do continente asiático. “A partir desse compromisso, devemos ter mudanças nas práticas de nossas disciplinas, atividades de extensão e pesquisa, objetivando formar profissionais mais preparados para o mercado e atender exigências comerciais e éticas”, destacou Teodoro.
O professor Ronaldo Vasconcelos ressaltou, ainda, que o sistema de criação de aves trabalhado na Uesb se integra às propostas defendidas pelo Fórum, mas, além disso, busca trabalhar uma realidade pouco explorada pelas universidades de um modo geral, que quase não desenvolvem tecnologia para a criação do tipo caipira. “Geralmente, os cursos de agrárias que trabalham com avaliação e produção animal, principalmente Zootecnia, são voltados para o sistema industrial”, destacou o docente, que coordena o Laboratório Experimental de Avicultura da Uesb.
Sistema de produção de aves em piquetes – Desde 2009, o Laboratório Experimental de Avicultura tem substituído o sistema tradicional de gaiolas por criação em piquetes. A mudança acontece por conta da alteração das linhagens de aves comerciais por ecótipos regionais, que são recursos genéticos nativos em que se busca, de acordo com Vasconcelos, desenvolver a potencialidade e a capacidade de produção dessas aves, criando-as em um ambiente semelhante à época que os portugueses a trouxeram para o Brasil, os chamados quintais.
De acordo com o professor, nesse sistema de produção, a liberdade instintiva natural da ave é preservada. “Essas aves precisam ser criadas em um ambiente onde elas tenham acesso ao pasto, possam diversificar a sua alimentação com raízes, folhas, frutos que estão ali à disposição. O meu trabalho é de conservação desses recursos, onde a gente já coloca esse material na mão do pequeno produtor”, complementou.